Sim, o trampolim. E tudo começou quando, em 1971, fui
convidado para ingressar em “A Bola”, o jornal com mais expansão em Portugal,
incluindo as vendas, muito superiores a todos os outros concorrentes, inclusive
os diários. Nessa altura, “A Bola” estava nas bancas três vezes por semana,
depois passou a quatro e, atualmente, diário. Foi, sem dúvida, a febre das
edições diárias dos jornais desportivos. Todos se lançaram nessa desenfreada
corrida. Contudo, ainda hoje se questiona: terá Portugal tantos leitores que possam
satisfazer as necessidades mais prementes dos ditos jornal (três)? Se hoje
fosse vivo, Vítor Santos não estaria de acordo com essa filosofia.
Em “A Bola”, sempre existiu um aquilatável espírito de
camaradagem. Milhares de leitores, em uníssono, consideravam “A Bola” (o jornal
de outros tempos, com outra gente) a “Bíblia do Desporto”, adicionando-se aqui
a correta linguagem portuguesa, muito apreciada pelos emigrantes, sobretudo nos
Estados Unidos e Canadá, conforme auscultamos “in-loco” na fase em que, com
alguma regularidade, nos deslocamos aos citados países. “A Bola” foi (será
ainda?) uma verdadeira ESCOLA DE JORNALISMO e, também, uma ESCOLA DE BOM
PORTUGUÊS. Conheço casos de pessoas que aprenderam o português lendo “A Bola”.
Em “A Bola”, eram diferentes os estilos de escrever, mas,
por outro lado, o que mais fazia prevalecer a hegemonia do jornal da Travessa
da Queimada (Bairro Alto) consistia na sua feitura e, em corolário, o
equilíbrio do seu bloco redactorial.
Nos vinte anos que por lá passei, todos foram meus amigos
(incluindo os estafetas), mas, amigos do peito sempre considerei dois, Vítor
Santos (o mestre dos mestres) e Alfredo Farinha, nomes que não precisam de mais
referências. Dois grandes vultos do jornalismo português, possuidores de notável
“ex-professo”.
No “Recod”, outra experiência de oito anos não menos
valiosa, numa altura em que este jornal já era um forte “adversário” de “A
Bola”, fato impensável em anos anteriores, em que só “A Bola” patenteava uma
clarividente supremacia em termos de vendas e, naturalmente, em relação às suas
tiragens, que, muitas das vezes, em média mensal, ultrapassava a casa dos
duzentos mil, isto quando o jornal saía três vezes (tri-semanário) e, mais
tarde, quatro (a edição do domingo) e, agora, seguindo o próprio “Record”,
diário. Aliás, foi uma fase em que os jornais desportivos enveredaram pelas
edições diárias, uma concorrência que, em certa medida, acabou por ser salutar,
mas que, inicialmente, deu para perceber os riscos que se corriam, se bem que
cada um esgrimia com as suas melhores armas, incluindo “O Jogo” para quem
colaborei durante dois anos (1995 e 97). Convenhamos que, em “O Jogo”, apanhei
uma fase de muita insegurança interna. Contudo, o jornal, mais tarde, se
recompôs da crise e se apresentou, posteriormente, de cara bem lavada,
impondo-se, fundamentalmente, no seu verdadeiro “habitat”, o norte do país,
particularmente na cidade do Porto.
E o que diziam os leitores? Isto: “A Bola” do Benfica (de
fato, a cor do jornal era vermelha), “Record do Sporting, “O Jogo” do Porto.
Será verdade? Eu sou do Sporting e comecei em “A Bola”, que dizem ser
benfiquista, Vítor Santos, chefe de redação, era o sócio nº 57 do Sporting.
Apenas suposições do povo leitor...
Por fim, a minha passagem histórica por Coimbra 2001.
Sinceramente, gostei, mas, parafraseando o estudante que termina a sua
licenciatura, para mim Coimbra também “teve mais encanto na hora da despedida”.
Mas a saudade continua. Bem vistas as coisas, ficou mesmo o encanto por Coimbra.
A seguir Capítulo 3
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